Maju Coutinho revela já ter sofrido assédio de entrevistado: “Confundem elogio com cantada”

Maju Coutinho (Foto: Divulgação TV Globo)Maju Coutinho (Foto: Divulgação TV Globo)

À frente da previsão do tempo no “Jornal Nacional”, Maria Júlia Coutinho ganhou visibilidade nacional e se tornou inspiração para muitas mulheres que aspiram sucesso profissional. Convidada para palestrar na primeira edição do Congresso Nacional de Liderança Feminina da ABRH-SP, que discutiu, nesta quinta (23), novas ações pela igualdade de gênero no mundo corporativo, Maju falou sobre as dificuldades enfrentadas pelas mulheres no trabalho e aproveitou para pedir mudança.

A descoberta do jornalismo se deu depois de um teste vocacional na adolescência. Mas na infância ela já revelava talento para a reportagem. “Eu apresentava trabalho de escola em formato de Jornal Nacional”, contou diante de uma plateia majoritariamente feminina.

Durante a faculdade de comunicação, em 2003, uma amiga a convidou para um estágio na TV Cultura. “Eu não ganharia nada, mas decidi encarar”, disse. Foi lá que ela teve a primeira experiência diante das câmeras. “Passei por todas as etapas do jornalismo. Mas às vezes faltava uma repórter e me colocavam para fazer sonora, que nada mais é do que uma entrevista onde o jornalista não aparece. Só dava pra ver a minha mão no vídeo. E minha mãe dizia toda orgulhosa: ‘Olha a mão da minha filha’”, contou.

Apaixonada pelo ofício, ela decidiu que precisava ter atitude e correr atrás do que sonhava ser. A determinação, aliás, foi fundamental para que ela alçasse voos cada vez mais altos. “Eu achava que levava jeito e espus pro meu chefe a minha vontade de ser repórter. Deu certo. Quando avalio a minha carreira até aqui, vejo que sempre deixei muito claro o que queria. Nem sempre sou bem-recebida, mas costumo me colocar.”

Em 2007, ela conseguiu uma vaga temporária na TV Globo, que acabou se tornando efetiva. Desde então, só agrega novas experiências e desafios ao currículo de jornalista.

ATITUDE FEMININA
Destemida, Maju não mede esforços para conquistar seus objetivos. “Não é fácil ser assim, às vezes, soa como loucura, ousadia. Mas minha mãe costuma dizer que essa postura foi fundamental para o meu crescimento na carreira. Apontar o caminho que eu desejava foi muito importante.”

Na contramão das pesquisas, ela garante nunca ter enfrentado algum impedimento na profissão por ser mulher. “Mas acho que isso se deve ao fato de as redações estarem tomadas por mulheres”, avalia.

Mas como nem tudo são flores, ela aponta para um cenário problemático que espera ver mudar em breve. “Por que ainda não vermos nenhuma mulher com mais de 50 anos em uma bancada de telejornal?”, questiona. “Parece que isso ainda incomoda. Por que só homem pode ser grisalho, barrigudo e ter rugas, enquanto a gente tem que atender à exigência da juventude e dos padrões de beleza? E a experiência que temos? Isso me incomoda e acontece de modo geral, em todas as emissoras. É uma cultura que eu espero que mude.”

#?jornalistascontraoassédio?
Atenta às redes sociais, Maju acompanhou recentemente a repercussão sobre a acusação de assédio feita por uma ex-jornalista do Portal IG contra o cantor MC Biel. O caso gerou uma forte campanha nas redes, que circulou com a hashtag #?jornalistascontraoassédio?.

“Nunca passei por assédio na redação, mas já enfrentei situações indelicadas com entrevistados que acham que podem ser indiscretos e confundem elogio com cantada”, contou. “Acho fundamental esse tipo de campanha. A partir do momento que jogamos luz sobre isso, estimulamos os homens a pensarem sobre o assunto”, disse se referindo também ao movimento #HeForShe (Eles por elas), da ONU Mulheres.

“Eles precisam se tornar nossos aliados para entenderem quando é elogio, quando é assédio, quando estão machucando e quando estamos dizendo ‘não’. Todo mundo precisa se engajar nessa causa.”

Ainda sobre desigualdade de gênero no mercado de trabalho, Maju aponta para outra adversidade que precisa ser superada. “Para mim, o maior problema que a gente ainda enfrenta como um todo é a questão do salário dieferenciado pelo sexo. As mulheres ainda não ganham igual aos homens e isso é uma enorme desigualdade.”

RACISMO
Quase um ano após ter sido alvo de comentários racistas nas redes sociais, Maju conta ter recebido muito apoio dos colegas para enfrentar o episódio e concluiu ter visto “o tiro sair pela culatra”. Segundo ela, o que a ajudou a encarar a situação com serenidade e força foi o ensinamento dos pais e as experiências da infância.

“Sou uma mulher negra e cresci sabendo como é ser negra e enfrentar preconceitos. Quando eu era criança, passei por muitas situações de racismo. Mas meus pais, que eram muito conscientes, não deixaram que aquilo que me arrasava na infância continuasse me arrasando quando adulta. Eles me ensinaram a valorizar a raça negra, a identificar nossas qualidades e a notar onde temos deficiência por falta de oportunidade. Assim me preparei para enfrentar situações como essa”, conta. “Foi um momento muito difícil pra minha família. Apesar de eu ter achado um absurdo, me mantive forte e serena. Mas foi como um linchamento em praça pública.”

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