SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ao menos nove questões presentes nos materiais didáticos produzidos pelo estudante de medicina Edcley Teixeira são iguais ou muito semelhantes às aplicadas em edições recentes do Enem -duas delas correspondem a perguntas de 2023, quatro de 2024 e outras aparecem com pequenas variações na edição de 2025.
Nenhuma delas está entre as três questões anuladas pelo governo federal após as notícias de que o universitário antecipou, em vídeo dias antes das provas, questões que caíram nos exames de matemática e ciências da natureza deste ano.
O Inep, instituto responsável pelo exame federal, afirma que nenhuma outra questão do Enem 2025 será anulada. Em entrevista à Folha de S.Paulo, o presidente do órgão, Manuel Palacios também declarou que as notas do Enem 2023 e 2024 permanecem integralmente válidas, inclusive para o Sisu 2026.
A reportagem fez a comparação a partir de cópias dos materiais digitais divulgados por Edcley em suas mentorias e em pastas virtuais, como a “Estarão no Enem”, que foram removidas das redes sociais após a circulação das primeiras informações sobre o caso.
Alguns desses arquivos também eram compartilhados em grupos e perfis na internet, de onde a reportagem coletou parte do conteúdo. As questões foram confrontadas com os cadernos oficiais do exame, disponíveis no site do Inep.
Entre as coincidências, há casos em que o enunciado, o tema e a estrutura das questões praticamente se repetem, com alterações mínimas. Um exemplo é a pergunta de matemática sobre a transformação de porcentagens em números decimais: no material de Edcley, o valor utilizado é 138,15%, enquanto o Enem 2024 apresenta 135,25%, com o mesmo tipo de solicitação e alternativas muito próximas. Outros itens seguem a mesma lógica de construção, como o que trata da interferência de ondas eletromagnéticas em aviões (Enem 2023).
Além disso, alguns materiais reproduzem ilustrações semelhantes às usadas em provas anteriores -caso do esquema sobre fitorremediação, presente no Enem 2024. Em outras situações, mesmo sem recorrer à imagem original, o exercício apresentado mantém o mesmo percurso de raciocínio e abordagem temática do Enem, como ocorre nas questões sobre poluição térmica causada por usinas nucleares (2025).
Em razão da antecipação de questões de edições anteriores, o movimento de vestibulandos Anula Enem pede que as notas não sejam utilizadas em processos seletivos. Em outubro, o MEC anunciou que, a partir de 2026, o Sisu (Sistema de Seleção Unificada) passará a aceitar resultados das três últimas edições do Enem.
Edcley diz que seu método se baseia na participação em avaliações oficiais, como o Prêmio Capes Talento Universitário e o Estudo de Comportamento de Itens, utilizados pelo Inep como pré-testes para calibrar perguntas que podem integrar futuras edições do Enem. Ele afirma que as semelhanças decorrem do domínio de padrões recorrentes na elaboração das questões.
Em um dos materiais, na capa, há a frase: “Essas questões estavam no pré-teste do Enem e podem cair no Enem 2024”.
Em 2023, em entrevista ao portal Sobral Online, Edcley afirmou ter previsto cinco questões do Enem daquele ano e acertado o tema da redação. No ano seguinte, disse ter antecipado seis questões da prova.
Ao Fantástico, da TV Globo, o estudante afirmou que não sabia, apenas desconfiava, que a prova do Prêmio Capes Talento Universitário funcionava como pré-teste do Enem.
Em vídeo publicado em janeiro, já excluído do seu perfil, ele dizia ter percebido a semelhança entre as questões do prêmio da Capes e as do Enem.
Criado em 2019, o Prêmio Capes Talento Universitário seleciona, a cada edição, mil estudantes de graduação que fizeram o Enem no ano anterior. O objetivo, segundo a Capes, é “reconhecer o desempenho dos estudantes que demonstrarem grau destacado de desenvolvimento de competências cognitivas”.
Para receber o prêmio individual de R$ 5.000, os candidatos precisam fazer uma prova com 80 questões de múltipla escolha, aplicada em até quatro horas.
O edital do prêmio não menciona cláusulas de confidencialidade sobre o conteúdo das questões.
Um participante ouvido pela reportagem disse não se lembrar de nenhum termo específico além das condições gerais de participação. Segundo ele, porém, circulava entre os concorrentes a “fofoca” de que as perguntas aplicadas poderiam integrar o BNI (Banco Nacional de Itens), usado pelo Inep na elaboração do Enem.
O episódio trouxe críticas antigas ao funcionamento do BNI, que reúne as questões pré-testadas antes de entrarem nas provas oficiais. O banco enfrenta limitações estruturais e um ritmo lento de renovação.
O número de servidores do Inep diminuiu nos últimos anos, enquanto as atribuições do órgão se ampliaram. Auditoria interna de 2023 apontou “problemas crônicos relativos à quantidade e à qualidade” dos itens disponíveis e alertou para a urgência de modernizar o sistema tecnológico responsável por essa etapa do exame.
PRESIDENTE DO INEP DIZ QUE SEGURANÇA DO ENEM NÃO ESTÁ COMPROMETIDA
Na entrevista à Folha de S.Paulo o presidente do Inep afirma que o instituto iniciou uma avaliação em grande escala assim que vieram a público relatos sobre semelhanças entre questões do Enem 2025 e materiais de estudo divulgados na internet.
De acordo com Palacios, após a análise de todos os materiais -incluindo os do Edcley e de outros cursos preparatórios-, o Inep não encontrou nenhum indício de acesso prévio à prova. “O que existia eram questões semelhantes, com maior ou menor proximidade, mas não havia nenhuma questão idêntica”, afirmou.
O presidente declarou que as coincidências observadas resultam da memorização de itens usados em pré-testes aplicados pelo Inep, como o prêmio da Capes.
“O pré-teste é um pré-teste de questões de prova, não da prova do Enem. Nos últimos anos, foram pré-testadas mais de 4.000 questões que poderiam eventualmente cair no exame”, disse. Palacios ressaltou que esse tipo de memorização “não compromete a segurança do Enem”.
“Nós [Inep] estamos assegurando a comparabilidade dos resultados de 2023, 2024 e 2025. Essa é a nova regra do Sisu, que visa garantir mais oportunidades. Os candidatos vão utilizar mais de uma nota alcançada dos últimos anos”, afirmou.
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ao menos nove questões presentes nos materiais didáticos produzidos pelo estudante de medicina Edcley Teixeira são iguais ou muito semelhantes às aplicadas em edições recentes do Enem -duas delas correspondem a perguntas de 2023, quatro de 2024 e outras aparecem com pequenas variações na edição de 2025.
Nenhuma delas está entre as três questões anuladas pelo governo federal após as notícias de que o universitário antecipou, em vídeo dias antes das provas, questões que caíram nos exames de matemática e ciências da natureza deste ano.
O Inep, instituto responsável pelo exame federal, afirma que nenhuma outra questão do Enem 2025 será anulada. Em entrevista à Folha de S.Paulo, o presidente do órgão, Manuel Palacios também declarou que as notas do Enem 2023 e 2024 permanecem integralmente válidas, inclusive para o Sisu 2026.
A reportagem fez a comparação a partir de cópias dos materiais digitais divulgados por Edcley em suas mentorias e em pastas virtuais, como a “Estarão no Enem”, que foram removidas das redes sociais após a circulação das primeiras informações sobre o caso.
Alguns desses arquivos também eram compartilhados em grupos e perfis na internet, de onde a reportagem coletou parte do conteúdo. As questões foram confrontadas com os cadernos oficiais do exame, disponíveis no site do Inep.
Entre as coincidências, há casos em que o enunciado, o tema e a estrutura das questões praticamente se repetem, com alterações mínimas. Um exemplo é a pergunta de matemática sobre a transformação de porcentagens em números decimais: no material de Edcley, o valor utilizado é 138,15%, enquanto o Enem 2024 apresenta 135,25%, com o mesmo tipo de solicitação e alternativas muito próximas. Outros itens seguem a mesma lógica de construção, como o que trata da interferência de ondas eletromagnéticas em aviões (Enem 2023).
Além disso, alguns materiais reproduzem ilustrações semelhantes às usadas em provas anteriores -caso do esquema sobre fitorremediação, presente no Enem 2024. Em outras situações, mesmo sem recorrer à imagem original, o exercício apresentado mantém o mesmo percurso de raciocínio e abordagem temática do Enem, como ocorre nas questões sobre poluição térmica causada por usinas nucleares (2025).
Em razão da antecipação de questões de edições anteriores, o movimento de vestibulandos Anula Enem pede que as notas não sejam utilizadas em processos seletivos. Em outubro, o MEC anunciou que, a partir de 2026, o Sisu (Sistema de Seleção Unificada) passará a aceitar resultados das três últimas edições do Enem.
Edcley diz que seu método se baseia na participação em avaliações oficiais, como o Prêmio Capes Talento Universitário e o Estudo de Comportamento de Itens, utilizados pelo Inep como pré-testes para calibrar perguntas que podem integrar futuras edições do Enem. Ele afirma que as semelhanças decorrem do domínio de padrões recorrentes na elaboração das questões.
Em um dos materiais, na capa, há a frase: “Essas questões estavam no pré-teste do Enem e podem cair no Enem 2024”.
Em 2023, em entrevista ao portal Sobral Online, Edcley afirmou ter previsto cinco questões do Enem daquele ano e acertado o tema da redação. No ano seguinte, disse ter antecipado seis questões da prova.
Ao Fantástico, da TV Globo, o estudante afirmou que não sabia, apenas desconfiava, que a prova do Prêmio Capes Talento Universitário funcionava como pré-teste do Enem.
Em vídeo publicado em janeiro, já excluído do seu perfil, ele dizia ter percebido a semelhança entre as questões do prêmio da Capes e as do Enem.
Criado em 2019, o Prêmio Capes Talento Universitário seleciona, a cada edição, mil estudantes de graduação que fizeram o Enem no ano anterior. O objetivo, segundo a Capes, é “reconhecer o desempenho dos estudantes que demonstrarem grau destacado de desenvolvimento de competências cognitivas”.
Para receber o prêmio individual de R$ 5.000, os candidatos precisam fazer uma prova com 80 questões de múltipla escolha, aplicada em até quatro horas.
O edital do prêmio não menciona cláusulas de confidencialidade sobre o conteúdo das questões.
Um participante ouvido pela reportagem disse não se lembrar de nenhum termo específico além das condições gerais de participação. Segundo ele, porém, circulava entre os concorrentes a “fofoca” de que as perguntas aplicadas poderiam integrar o BNI (Banco Nacional de Itens), usado pelo Inep na elaboração do Enem.
O episódio trouxe críticas antigas ao funcionamento do BNI, que reúne as questões pré-testadas antes de entrarem nas provas oficiais. O banco enfrenta limitações estruturais e um ritmo lento de renovação.
O número de servidores do Inep diminuiu nos últimos anos, enquanto as atribuições do órgão se ampliaram. Auditoria interna de 2023 apontou “problemas crônicos relativos à quantidade e à qualidade” dos itens disponíveis e alertou para a urgência de modernizar o sistema tecnológico responsável por essa etapa do exame.
PRESIDENTE DO INEP DIZ QUE SEGURANÇA DO ENEM NÃO ESTÁ COMPROMETIDA
Na entrevista à Folha de S.Paulo o presidente do Inep afirma que o instituto iniciou uma avaliação em grande escala assim que vieram a público relatos sobre semelhanças entre questões do Enem 2025 e materiais de estudo divulgados na internet.
De acordo com Palacios, após a análise de todos os materiais -incluindo os do Edcley e de outros cursos preparatórios-, o Inep não encontrou nenhum indício de acesso prévio à prova. “O que existia eram questões semelhantes, com maior ou menor proximidade, mas não havia nenhuma questão idêntica”, afirmou.
O presidente declarou que as coincidências observadas resultam da memorização de itens usados em pré-testes aplicados pelo Inep, como o prêmio da Capes.
“O pré-teste é um pré-teste de questões de prova, não da prova do Enem. Nos últimos anos, foram pré-testadas mais de 4.000 questões que poderiam eventualmente cair no exame”, disse. Palacios ressaltou que esse tipo de memorização “não compromete a segurança do Enem”.
“Nós [Inep] estamos assegurando a comparabilidade dos resultados de 2023, 2024 e 2025. Essa é a nova regra do Sisu, que visa garantir mais oportunidades. Os candidatos vão utilizar mais de uma nota alcançada dos últimos anos”, afirmou.
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ao menos nove questões presentes nos materiais didáticos produzidos pelo estudante de medicina Edcley Teixeira são iguais ou muito semelhantes às aplicadas em edições recentes do Enem -duas delas correspondem a perguntas de 2023, quatro de 2024 e outras aparecem com pequenas variações na edição de 2025.
Nenhuma delas está entre as três questões anuladas pelo governo federal após as notícias de que o universitário antecipou, em vídeo dias antes das provas, questões que caíram nos exames de matemática e ciências da natureza deste ano.
O Inep, instituto responsável pelo exame federal, afirma que nenhuma outra questão do Enem 2025 será anulada. Em entrevista à Folha de S.Paulo, o presidente do órgão, Manuel Palacios também declarou que as notas do Enem 2023 e 2024 permanecem integralmente válidas, inclusive para o Sisu 2026.
A reportagem fez a comparação a partir de cópias dos materiais digitais divulgados por Edcley em suas mentorias e em pastas virtuais, como a “Estarão no Enem”, que foram removidas das redes sociais após a circulação das primeiras informações sobre o caso.
Alguns desses arquivos também eram compartilhados em grupos e perfis na internet, de onde a reportagem coletou parte do conteúdo. As questões foram confrontadas com os cadernos oficiais do exame, disponíveis no site do Inep.
Entre as coincidências, há casos em que o enunciado, o tema e a estrutura das questões praticamente se repetem, com alterações mínimas. Um exemplo é a pergunta de matemática sobre a transformação de porcentagens em números decimais: no material de Edcley, o valor utilizado é 138,15%, enquanto o Enem 2024 apresenta 135,25%, com o mesmo tipo de solicitação e alternativas muito próximas. Outros itens seguem a mesma lógica de construção, como o que trata da interferência de ondas eletromagnéticas em aviões (Enem 2023).
Além disso, alguns materiais reproduzem ilustrações semelhantes às usadas em provas anteriores -caso do esquema sobre fitorremediação, presente no Enem 2024. Em outras situações, mesmo sem recorrer à imagem original, o exercício apresentado mantém o mesmo percurso de raciocínio e abordagem temática do Enem, como ocorre nas questões sobre poluição térmica causada por usinas nucleares (2025).
Em razão da antecipação de questões de edições anteriores, o movimento de vestibulandos Anula Enem pede que as notas não sejam utilizadas em processos seletivos. Em outubro, o MEC anunciou que, a partir de 2026, o Sisu (Sistema de Seleção Unificada) passará a aceitar resultados das três últimas edições do Enem.
Edcley diz que seu método se baseia na participação em avaliações oficiais, como o Prêmio Capes Talento Universitário e o Estudo de Comportamento de Itens, utilizados pelo Inep como pré-testes para calibrar perguntas que podem integrar futuras edições do Enem. Ele afirma que as semelhanças decorrem do domínio de padrões recorrentes na elaboração das questões.
Em um dos materiais, na capa, há a frase: “Essas questões estavam no pré-teste do Enem e podem cair no Enem 2024”.
Em 2023, em entrevista ao portal Sobral Online, Edcley afirmou ter previsto cinco questões do Enem daquele ano e acertado o tema da redação. No ano seguinte, disse ter antecipado seis questões da prova.
Ao Fantástico, da TV Globo, o estudante afirmou que não sabia, apenas desconfiava, que a prova do Prêmio Capes Talento Universitário funcionava como pré-teste do Enem.
Em vídeo publicado em janeiro, já excluído do seu perfil, ele dizia ter percebido a semelhança entre as questões do prêmio da Capes e as do Enem.
Criado em 2019, o Prêmio Capes Talento Universitário seleciona, a cada edição, mil estudantes de graduação que fizeram o Enem no ano anterior. O objetivo, segundo a Capes, é “reconhecer o desempenho dos estudantes que demonstrarem grau destacado de desenvolvimento de competências cognitivas”.
Para receber o prêmio individual de R$ 5.000, os candidatos precisam fazer uma prova com 80 questões de múltipla escolha, aplicada em até quatro horas.
O edital do prêmio não menciona cláusulas de confidencialidade sobre o conteúdo das questões.
Um participante ouvido pela reportagem disse não se lembrar de nenhum termo específico além das condições gerais de participação. Segundo ele, porém, circulava entre os concorrentes a “fofoca” de que as perguntas aplicadas poderiam integrar o BNI (Banco Nacional de Itens), usado pelo Inep na elaboração do Enem.
O episódio trouxe críticas antigas ao funcionamento do BNI, que reúne as questões pré-testadas antes de entrarem nas provas oficiais. O banco enfrenta limitações estruturais e um ritmo lento de renovação.
O número de servidores do Inep diminuiu nos últimos anos, enquanto as atribuições do órgão se ampliaram. Auditoria interna de 2023 apontou “problemas crônicos relativos à quantidade e à qualidade” dos itens disponíveis e alertou para a urgência de modernizar o sistema tecnológico responsável por essa etapa do exame.
PRESIDENTE DO INEP DIZ QUE SEGURANÇA DO ENEM NÃO ESTÁ COMPROMETIDA
Na entrevista à Folha de S.Paulo o presidente do Inep afirma que o instituto iniciou uma avaliação em grande escala assim que vieram a público relatos sobre semelhanças entre questões do Enem 2025 e materiais de estudo divulgados na internet.
De acordo com Palacios, após a análise de todos os materiais -incluindo os do Edcley e de outros cursos preparatórios-, o Inep não encontrou nenhum indício de acesso prévio à prova. “O que existia eram questões semelhantes, com maior ou menor proximidade, mas não havia nenhuma questão idêntica”, afirmou.
O presidente declarou que as coincidências observadas resultam da memorização de itens usados em pré-testes aplicados pelo Inep, como o prêmio da Capes.
“O pré-teste é um pré-teste de questões de prova, não da prova do Enem. Nos últimos anos, foram pré-testadas mais de 4.000 questões que poderiam eventualmente cair no exame”, disse. Palacios ressaltou que esse tipo de memorização “não compromete a segurança do Enem”.
“Nós [Inep] estamos assegurando a comparabilidade dos resultados de 2023, 2024 e 2025. Essa é a nova regra do Sisu, que visa garantir mais oportunidades. Os candidatos vão utilizar mais de uma nota alcançada dos últimos anos”, afirmou.
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ao menos nove questões presentes nos materiais didáticos produzidos pelo estudante de medicina Edcley Teixeira são iguais ou muito semelhantes às aplicadas em edições recentes do Enem -duas delas correspondem a perguntas de 2023, quatro de 2024 e outras aparecem com pequenas variações na edição de 2025.
Nenhuma delas está entre as três questões anuladas pelo governo federal após as notícias de que o universitário antecipou, em vídeo dias antes das provas, questões que caíram nos exames de matemática e ciências da natureza deste ano.
O Inep, instituto responsável pelo exame federal, afirma que nenhuma outra questão do Enem 2025 será anulada. Em entrevista à Folha de S.Paulo, o presidente do órgão, Manuel Palacios também declarou que as notas do Enem 2023 e 2024 permanecem integralmente válidas, inclusive para o Sisu 2026.
A reportagem fez a comparação a partir de cópias dos materiais digitais divulgados por Edcley em suas mentorias e em pastas virtuais, como a “Estarão no Enem”, que foram removidas das redes sociais após a circulação das primeiras informações sobre o caso.
Alguns desses arquivos também eram compartilhados em grupos e perfis na internet, de onde a reportagem coletou parte do conteúdo. As questões foram confrontadas com os cadernos oficiais do exame, disponíveis no site do Inep.
Entre as coincidências, há casos em que o enunciado, o tema e a estrutura das questões praticamente se repetem, com alterações mínimas. Um exemplo é a pergunta de matemática sobre a transformação de porcentagens em números decimais: no material de Edcley, o valor utilizado é 138,15%, enquanto o Enem 2024 apresenta 135,25%, com o mesmo tipo de solicitação e alternativas muito próximas. Outros itens seguem a mesma lógica de construção, como o que trata da interferência de ondas eletromagnéticas em aviões (Enem 2023).
Além disso, alguns materiais reproduzem ilustrações semelhantes às usadas em provas anteriores -caso do esquema sobre fitorremediação, presente no Enem 2024. Em outras situações, mesmo sem recorrer à imagem original, o exercício apresentado mantém o mesmo percurso de raciocínio e abordagem temática do Enem, como ocorre nas questões sobre poluição térmica causada por usinas nucleares (2025).
Em razão da antecipação de questões de edições anteriores, o movimento de vestibulandos Anula Enem pede que as notas não sejam utilizadas em processos seletivos. Em outubro, o MEC anunciou que, a partir de 2026, o Sisu (Sistema de Seleção Unificada) passará a aceitar resultados das três últimas edições do Enem.
Edcley diz que seu método se baseia na participação em avaliações oficiais, como o Prêmio Capes Talento Universitário e o Estudo de Comportamento de Itens, utilizados pelo Inep como pré-testes para calibrar perguntas que podem integrar futuras edições do Enem. Ele afirma que as semelhanças decorrem do domínio de padrões recorrentes na elaboração das questões.
Em um dos materiais, na capa, há a frase: “Essas questões estavam no pré-teste do Enem e podem cair no Enem 2024”.
Em 2023, em entrevista ao portal Sobral Online, Edcley afirmou ter previsto cinco questões do Enem daquele ano e acertado o tema da redação. No ano seguinte, disse ter antecipado seis questões da prova.
Ao Fantástico, da TV Globo, o estudante afirmou que não sabia, apenas desconfiava, que a prova do Prêmio Capes Talento Universitário funcionava como pré-teste do Enem.
Em vídeo publicado em janeiro, já excluído do seu perfil, ele dizia ter percebido a semelhança entre as questões do prêmio da Capes e as do Enem.
Criado em 2019, o Prêmio Capes Talento Universitário seleciona, a cada edição, mil estudantes de graduação que fizeram o Enem no ano anterior. O objetivo, segundo a Capes, é “reconhecer o desempenho dos estudantes que demonstrarem grau destacado de desenvolvimento de competências cognitivas”.
Para receber o prêmio individual de R$ 5.000, os candidatos precisam fazer uma prova com 80 questões de múltipla escolha, aplicada em até quatro horas.
O edital do prêmio não menciona cláusulas de confidencialidade sobre o conteúdo das questões.
Um participante ouvido pela reportagem disse não se lembrar de nenhum termo específico além das condições gerais de participação. Segundo ele, porém, circulava entre os concorrentes a “fofoca” de que as perguntas aplicadas poderiam integrar o BNI (Banco Nacional de Itens), usado pelo Inep na elaboração do Enem.
O episódio trouxe críticas antigas ao funcionamento do BNI, que reúne as questões pré-testadas antes de entrarem nas provas oficiais. O banco enfrenta limitações estruturais e um ritmo lento de renovação.
O número de servidores do Inep diminuiu nos últimos anos, enquanto as atribuições do órgão se ampliaram. Auditoria interna de 2023 apontou “problemas crônicos relativos à quantidade e à qualidade” dos itens disponíveis e alertou para a urgência de modernizar o sistema tecnológico responsável por essa etapa do exame.
PRESIDENTE DO INEP DIZ QUE SEGURANÇA DO ENEM NÃO ESTÁ COMPROMETIDA
Na entrevista à Folha de S.Paulo o presidente do Inep afirma que o instituto iniciou uma avaliação em grande escala assim que vieram a público relatos sobre semelhanças entre questões do Enem 2025 e materiais de estudo divulgados na internet.
De acordo com Palacios, após a análise de todos os materiais -incluindo os do Edcley e de outros cursos preparatórios-, o Inep não encontrou nenhum indício de acesso prévio à prova. “O que existia eram questões semelhantes, com maior ou menor proximidade, mas não havia nenhuma questão idêntica”, afirmou.
O presidente declarou que as coincidências observadas resultam da memorização de itens usados em pré-testes aplicados pelo Inep, como o prêmio da Capes.
“O pré-teste é um pré-teste de questões de prova, não da prova do Enem. Nos últimos anos, foram pré-testadas mais de 4.000 questões que poderiam eventualmente cair no exame”, disse. Palacios ressaltou que esse tipo de memorização “não compromete a segurança do Enem”.
“Nós [Inep] estamos assegurando a comparabilidade dos resultados de 2023, 2024 e 2025. Essa é a nova regra do Sisu, que visa garantir mais oportunidades. Os candidatos vão utilizar mais de uma nota alcançada dos últimos anos”, afirmou.













